quarta-feira, fevereiro 14, 2007

A Lenda do Velho que virava as páginas dos livros


Esta é uma lenda que conheci quando passei por uma árvore especial. Junto a essa árvore estava uma estante cheia de livros de várias cores, tamanhos e grossuras. Tinha livros para todos os gostos! Comédias, dramas, romances, tragédias gregas... tudo o que se procurasse encontrava-se ali. Junto a uma árvore. E que bela árvore! É como se estivesse a proteger todas aquelas histórias e ao mesmo tempo ela própria guardasse em si uma história por contar. Fiquei tão curioso com aquilo que decidi descobrir o porquê. Olhei à volta e não vi nada. Fiquei a pensar que não ía satisfazer a minha curiosidade e que teria que eu próprio que dar sentido à estante debaixo da árvore. Nisto, ao longe vejo um pastor com o seu cajado a dirigir-se para junto da árvore. Aguardei calmamente que ele se aproximasse e comecei por cumprimentá-lo com um bom dia bastante sorridente, que ele me deu de volta ainda com mais brilho! Como não me consigo conter nas curiosidades fui logo ao assunto que tanto me intrigava.
"Desculpe importuná-lo com perguntas, mas... eu estava aqui a passar e vi esta bela estante com tantos livros que fiquei curioso. Sabe a razão de ser de ela estar aqui junto a esta árvore?" O Pastor sorriu como se não fosse a primeira vez que ouvisse esta pergunta. Ele, prontamente me respondeu: "Esta estante é em memória a um velho que passava aqui os dias debaixo desta árvore. Esse velho só fazia uma coisa desde que amanhecia até que o sol adormecia... virava as páginas dos livros. De todos os livros possíveis e imaginários. De tanto virar páginas dos livros já tinha os dedos amarelecidos do papel. Eu próprio vim várias vezes conversar com ele enquanto ele virava as suas páginas. As páginas que preenchiam os seus dias, a sua vida! Como eu era novo, não percebia muito bem o porquê de tal tarefa, ofício, entretenimento... o que lhe quisessem chamar e todas as vezes que vinha ter com ele perguntava-lhe o mesmo:Porque é que viras tantas páginas? A resposta que ele dava era no mínimo bonita. Ele dizia assim
Eu viro a página, porque já a olhei, deslumbrei e repensei. Às vezes, temos páginas que por mais vezes que a possamos ler ficamos ali encalhados sem a perceber e insistimos, insistimos a tentar respirar o seu sentido. Mas nem isso ajuda. Outras páginas são tão boas para nós que não temos muita vontade de as virar, mas só ficar ali a contemplá-la. Mas se em qualquer destes casos eu não virar a página de que me vale se no fim o que eu tenho é um ponto final? Do outro lado tenho a surpresa, tenho o desafio, tenho a novidade, a curiosidade... e esses é que me vão dando genica para querer continuar a virar páginas porque queremos sempre saber mais, conhecer mais e ver mais para além do ponto final. Se bem que umas reticências às vezes também aguçam a imaginação e põe-nos a magicar para saber o que nos espera num simples virar de página. Essa página que vem a seguir até pode ser em branco, e que sorte porque é nessa onde temos a liberdade de pintar aquilo que pode tornar cada virar de página mais emocionante e a nós próprios como pintores de linhas e curvas que só serão da forma que forem depois de termos lido muito bem o que está para trás! Aí, sorrimos e dizemos, as folhas das árvores caem e renascem todos os anos rejuvenescendo e dando frescura à própria àrvore, as folhas de um livro não caem mas viram-se para que dessa arajem se ganhe um novo fôlego que nos leve a devorar cada página com a mesma ou mais frescura que as anteriores."
Dito isto, pegou no seu cajado e seguiu caminho com um sorriso sincero cravado no rosto. Eu fiquei imóvel com estas palavras sem saber o que pensar ou o que lhe dizer em troca, mas senti que virar páginas dos livros, são um deslumbro... cheio de emoções que nos podem tornar donos de um livro escrito por nós! O nosso livro dos deslumbros. E... venham eles!!!

6 Suspiros:

Anonymous Anónimo suspirou...

Está mesmo bonito, miguel!

*xi

fevereiro 14, 2007 11:42 da manhã  
Blogger Mariana suspirou...

Era o senhor a "não" querer virar a página, porque sabia que iria acabar por ter um ponto final, e preferia ficar ali a contemplar o as páginas do livro...

E eu a não gostar dos pontos de finais destes teus textos, fica-me sempre apetecer mais e mais...

Beijo Miguel.

(Bom deslumbro)

fevereiro 14, 2007 1:04 da tarde  
Blogger Menina Lua suspirou...

faltam-me as palavras, mas não queria sair daqui, sem te deixar uma palavra ou qualquer coisinha que faça com que não te esqueças como estes teus deslumbros chegam a ter magia!...

obrigada por escreveres, Miguel. *

fevereiro 15, 2007 11:58 da manhã  
Blogger  suspirou...

nao...ultimamente até me esqueço que tenho estes pózinhos mágicos em minha posse! =/

fevereiro 15, 2007 2:00 da tarde  
Blogger  suspirou...

estou a guardá-los.posso precisar deles mais tarde

fevereiro 15, 2007 8:28 da tarde  
Blogger  suspirou...

ainda não me mentalizei que a vida são 2 dias. vou tentar aprender a aproveitar cada segundo como se fosse o último =)


quanto aos pózinhos...se fossem infinitos eu tinha tudo aquilo que queria, e já viste a chatice q isso era? a vida assim nem tinha a sua piada! xD

fevereiro 16, 2007 1:14 da tarde  

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