segunda-feira, abril 09, 2007

A Varina que ouvia as pedras e se confessava ao mar

Aaaaahhhh, que bom! Ir à praia e apenas estar a sentir a brisa bater na cara, cheirar a maresia, ouvir as ondas a bater, aconchegar-me nos raios de sol que nos aquecem... foi assim que comecei o dia, nesta paz, nesta calma sentado numa rocha. Enquanto apreciava tudo isto, dei conta que perto de mim estava uma Varina a fazer o mesmo que eu mas com os pés dentro de água e a cantar uma cantiga do mar, daquelas que vai e vem e fica sempre no ouvido, diz sempre a verdade e que por mais tempo que corra não passa de moda. Estava tão embalado com este ambiente que por momentos me senti a levitar de tão leve que me sentia. Perdido nesta calma, já a Varina a ir embora, decido falar com ela, porque estava curioso onde é que ela tinha aprendido todo aquele entendimento com o mar como se o seu canto fosse um prolongamento da melodia das ondas. Ela ficou algo sobressaltada com a pergunta porque estava tão concentrada no seu mundo que parecia ser difícil ouvir algo que não o seu próprio murmurar e sonhar das ondas do mar. Mas logo, me olhou com um sorriso e respondeu: "Já há muitos anos que aqui venho quando sinto necessidade de ficar em paz comigo! Foi algo que aprendi da minha mãe e ela da minha avó e por aí a diante. Já tem muitas gerações. Venho aqui buscar aquilo que as pessoas no seu dia-a-dia fazem com que percamos pela correria e pela pressão de muitas vezes termos que procurar e nos concentrarmos nas coisas menos importantes. É como se fosse uma valsa a 3. E que deslumbro que é quando se entra na dança!!!" Quando ela dizia isto reparei que ela deixava soltar uma lágrima brilhante mas que parecia de alegria. Calmamente, ela continuou:"Eu venho aqui ouvir as pedras e confessar-me ao mar!". Ouvir as pedras? Mas como é que se pode ouvir as pedras? E também não sabia que o mar tinha ouvidos... Eu devo ter uma cara de um espanto tal que ela se apressou-se a acrescentar: "Pois deves achar isto um pouco estranho não é? Mas a verdade é que as pedras são as maiores contadoras de histórias que temos à face da terra. Nós podemos vir e ir, podem passar gerações, podem vir tempestades, guerras, que elas vão estar cá sempre para contar as histórias, quer seja ao ar ou debaixo de água!! Elas relembram-me cada vez que as ouço, que nós pouco somos quando comparados a elas. Nós apenas vivemos alguns anos e por vezes pensamos naquilo que nos vai fazer feliz a curto prazo perdendo-nos nesses pensamentos. E preocupamo-nos tanto. Não é? Olha para elas, olha para as pedras, as rochas... elas não se queixam, elas não se preocupam e têm uma vida na terra que quando comparada com as nossas é eterna. Não precisam de nada porque são felizes com o que o dia lhes dá. Isto aprendi com elas, se bem que às vezes me esqueço e é por isso que aqui venho para me lembrar!!! Também deves estar intrigado como é que eu me posso confessar ao mar..." disse a Varina, e continuou "Ele ouve tudo o que digo. Se eu quiser confessar-me ao mar, dizer-lhe os meus segredos venho aqui quando a maré está a vazar para que ele leve tudo o que cá vai dentro. Por vezes quando ele fica triste em cumplicidade comigo, as ondas ficam enormes e vem uma tempestade louca para que ele consiga apagar do tempo as coisas más que nos vão acontecendo. Mas depois disso eu sei que vem a calma e a paz. Ele é um bom companheiro porque leva para longe aqueles fardos difíceis de carregar e, como te digo, as rochas lembram-me sempre que não vale a pena preocuparmo-nos com o que o dia vai dando porque olho para elas que nada fazem ou se preocupam e continuam sempre cá a contar as suas histórias."
Eu estava mesmo espantado a ouvir tão deslumbrantes histórias e fascinado perdido no rosto da Varina que ela se despediu e porque disse que tinha que começar o seu dia de trabalho a apregoar as alegrias do mar e a vender o peixe fresco que os pescadores estavam a descarregar na lota. Eu agradeci aquele momento com um sorriso nos olhos bem brilhante e fiquei ainda bastante tempo a pensar no que ela me tinha contado. Realmente, por vezes pensamos demais no que a vida nos dá ou deixa de dar e provavelmente deviamos era pensar no que nós podiamos dar à vida. Porque olho para as pedras, e elas estão cá há tantos anos e nunca ninguém as ouviu a queixar e estão sempre dispostas a suportar tudo. Nunca ninguém as viu lutar ou fazer guerra! E por vezes nós que andamos a vaguear por este pequeno mundo, fazemos um cavalo de corrida com coisas tão pequenas para quê? No fim não ficamos com nada do que lutamos por... seria mesmo deslumbrante se o mar engolisse todas as guerras todas essas preocupações, fizesse uma grande tempestade para que acordasse todas as pessoas desta cegueira que as ofusca e depois pudessemos contar história uns aos outros como as rochas... Obrigado pelo deslumbro Varina dos olhos do mar! Vou ficar aqui mais um pouco a aquecer o balão para depois voar um pouco e escrever no céu a tua história...

Este deslumbro é em agradecimento a todos os que me aturaram nos últimos tempos (aos meninos da Residencial Tejo em Sheffield :)) a todos os que quiseram (mas não puderam) e aos que fizeram a surpresa no aeroporto! Esta Varina, é a minha terra que conta muitas histórias de um mar de gentes e culturas que a vida nos vai trazendo e que eu muito agradeço...

5 Suspiros:

Blogger eztrelinhaa suspirou...

gosto especialmente da forma como começaste o blog. aquela abordagem inicial, ta brutal. aquela forma de falr encanta =) *

fica um beijinho*
voar em papagaios de papel :D

abril 10, 2007 1:42 da tarde  
Anonymous Anónimo suspirou...

Olá amigo!!!

Dá gosto de ler, dá gosto ouvir histrias escritas / contadas por ti!!

Deu gosto ir buscar-te ao aeroporto porque és especial para nós!! :-)

Continua assim!

Beijinho!

abril 10, 2007 2:38 da tarde  
Blogger Mariana suspirou...

Beijinho Beijinho, Miguel.

abril 13, 2007 12:43 da tarde  
Blogger sonhadora suspirou...

No sonho me embriago com as suas palavras.
Beijinhos embrulhados em abraços

abril 17, 2007 6:15 da tarde  
Anonymous Anónimo suspirou...

Olha, sabes Miguel, Eu estou mesmo feliz por estares de volta :)

É que assim... já temos a quem contar as nossas histórias :)

[*]

abril 17, 2007 10:03 da tarde  

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